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quinta-feira, 28 de julho de 2011

RUÍDOS


Ah, essa coisa de acordar todos os dias, espreguiçar, investigar o quarto canto por canto, para ter a certeza de que de fato acordou e de que está de fato ali, sempre ali, no mesmo lugar; assentar-se na cama, refletir se põe os pés no chão, se calça os chinelos; ah, esse corpo sem excessos de gordura ergue-se pesado, caminha até a janela, abre as cortinas e lá está o sol, esse maldito sol, sempre esse sol; depois, chega até a porta do quarto, encosta o ouvido nela tentando identificar os primeiros barulhos da manhã, nada de rádio ou tevê, no banheiro apenas o som da descarga, a água da pia; na cozinha, o apito, o leite, a chaleira, a água quente do café talvez tenha caído dentro da garrafa térmica e essa água em fervura faz coro com o ambiente que parece em eterno estado de ebulição; outro alguém levanta e com ele a torturante ausência de bom dia ou coisa que valha; o filtro, a água do filtro e aquele beber dele cada dia mais lento, cada dia mais devagar; ah, mas, e se de olhos fechados, o som daqueles intermináveis goles d’água lembrarem a você uma fonte, um barulho de rio te afastando da chaleira, do café que, distraído, ultrapassa os limites da garrafa e molha a mesa, caindo gota a gota no chão, provocando o enérgico bater da porta do armário, a raivosa toalha de papel; a faca bate no prato quando uma maçã é partida ao meio e o atrito dela em certos dentes parece querer dizer do quanto eles são saudáveis; não se diz palavra naquele lugar, mas rangem-se dentes, tritura-se toda a ordem de frutos e cereais, corpos passam rentes, quase se esbarram, quase... já o sol, esse não faz cerimônia, entra e sai por todos os poros que encontra e em segundos cada qual segue caminho, chaves na porta cerram o silêncio.

Jussara Santos

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