Aquele parecia que seria um dia como outro qualquer. O sol alto; eu brincando na beirada do tambor, que , mesmo meio enferrujado, ainda armazenava água pra casa. Água para os eternos banhos de bacia; a bacia grande em que tomávamos banho e minha vó lavava a roupa da família.
Naquele dia, ela estava lá lavando a roupa, ensaboando e batendo, batendo, batendo.
Naquele dia que parecia um como outro qualquer, meu vizinho irrompe e grita lá do alto do barranco: - dona Ercília, dona Ercília, o cachorro está estrebuchando lá embaixo.
Estrebuchando; que diabos significaria aquilo? Estaria nosso cachorro mais uma vez em guerra com o da casa vizinha? Não havia quem fizesse com que aqueles dois se entendessem e a rua, vermelha, a parecer um ringue.
Desci, não, pulei o barranco, foi quando entendi o significado do “estrebuchando” dito por meu vizinho.
E uma voz grave e lenta repetia dentro de minha cabeça: “Estrebuchar: Um. Agitar muito (braços e pernas) Dois. Agitar-se com violência; debater-se (...)”.
Eu não acreditava no que via. Nosso cão ficara sem ar. Alguém dera a ele um pedaço de carne com uma pequena bola plástica que parou em sua garganta.
Quem cometeria um ato desses?
Até hoje não sei.
Sei que debaixo do sol quente alisei aqueles pelos negros até ouvir o último grunhido (dois pontos) gemido.
Já não sabia se o que tinha em meu rosto era lágrima ou suor.
Larguei nosso cão na beirada do barranco. Ele ficara muito grande e muito pesado também.
Com o vestido sujo, subi.
Minha avó que não arredara pé de frente da grande bacia com roupas, batia com força uma peça branca e batia, batia, batia.
Aquela mulher já velha parecia ainda mais velha; uma gota de suor no avental ou não seria uma lágrima?
Fui para dentro...
Jussara Santos - Este conto integra a coletânea De flores artificiais
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