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domingo, 25 de maio de 2014

De Minas não sei nada ou muito pouco
sei dela aquilo que  dizem
Dizem do silêncio das montanhas
cortado pelo barulho das ruas de certas cidades

Dizem da transpiração de um horizonte
já de beleza enfumaçada
escondido pela poluição

Sem mais sem não
de Minas são muitos os arranha-céus
e ninguém mais atura cansativa arquitetura
que entope até os poros
mas agrada olhar alheio
que no conforto do seu meio
de discurso indigesto, certinho,
engomadinho,
mata a fome do vizinho
dando-lhe sobras de comida
e  frente a sua TV de sei lá quantas polegadas
sentindo a missão cumprida
sorri redimida

De Minas sobram rojões de jargões
por isso,
prefiro não mentir meu nome de Nascimento
e ouvir tons, todos os tons
ainda que me acreditem louca
porque falo com meu ancestral
de igual pra igual

De Minas tudo e nada tenho
levo aquilo que convenho
não escondo seus seres da rua
que às vezes cantam  às vezes dançam
às vezes nem dormem
mas quando o sono os alcança
e com eles faz aliança
improvisam um colchão não de papelão
mas de sonho
de pó de estrela
daquilo que restou do sol do dia
da lua da alquimia

De Minas tentam esconder seu travesti
que em linguagem tupi-guarani
rejeita seu guaraná
e põe sua gira pra girar



Minas não é só de dona Adélia
é também de dona Ofélia e de Dona Margarida
é de meu avô João que tocava violão

Minha Minas
é barulhenta
aos desmandos vive atenta
e já não quer requebrar
porque esse é seu lugar

Se requebra,
é porque quer desvencilhar quadril e anca
da dor de estereótipos de outdoor
e revelar para o país varonil
meio assim botando banca
tudo que recebeu de herança

No barulho da minha Minas
que pode até ter trilho e trem
no metrô tem agogô
e rejeitando vida de gado
me comanda o congadeiro
que ouvindo o som do pandeiro
mistura outros ritmos, outros sons

E no chamado que entoa
revela o dizer da gunga
que atada no tornozelo
já não é mais seu grilhão
mas aquilo que o salva
que o livra de antemão.
(Jussara Santos)






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